E como acontece já se
sabe: um olhar, um sorriso, umas palavras banais...
E pronto! A terra pára de girar, o coração bate mais
depressa e a cabeça entra em órbita. O mistério permanece: por que é que entre tanta gente se foi
apaixonar precisamente por aquela pessoa?
Coincidência? Destino? Conjugação de signos?
Há explicações para todos os gostos e feitios. Nada disso, acreditam os cientistas que há décadas tentam desvendar as razões do coração. Pesquisadores de diversas áreas, da Psicologia à Biologia Molecular, trabalham apaixonadamente na construção de teorias que expliquem por que nos apaixonamos. O amor entrou no laboratório: câmaras de vídeo, sensores, programas informáticos e até algoritmos matemáticos começam a revelar as leis do enamoramento. Os resultados dessas pesquisas afirmam que a paixão tem lógica. Uma lógica desvendada pela ciência e que nem os próprios apaixonados conhecem. Algumas conclusões são deveras curiosas e fazem-nos pensar... Descubra as razões do amor que a ciência evoca, mas que o coração teima em não reconhecer.
Uma das teorias mais em voga é a que a tenta explicar o desencadear da paixão através das reacções químicas que podem ocorrer entre duas pessoas. O ponto de parti- da para os inúmeros estudos realizados nesta área é o conhecimento de que a escolha de parceiros no reino animal sofre uma enorme influência das feromonas, moléculas libertadas dos corpos dos outros animais da mesma espécie. Os cientistas descobriram que os seres humanos têm um minúsculo órgão, localizado no nariz, que também detecta, sem que disso nos apercebamos, essas substâncias químicas. Até que ponto determinamos a escolha da pessoa por quem nos apaixonamos através das feromonas ainda não é, no entanto, consensual.
O amor é uma doença
Pouco consensual também é a opinião de Donatella Marazziti. Esta psiquiatra italiana, da Universidade de Pisa, vai ainda mais longe nas suas teorias e garante que o apaixonado fica literalmente doente. Marazziti constatou que um indivíduo enamorado tem um nível de serotonina (molécula do cérebro que regula o humor, a ansiedade e o sono) 4o por cento mais baixo do que o normal. É a mesma quantidade encontrada em doentes obsessivo-compulsivos. A expressão "doente de amor" ganha assim um novo significado...
Com o mesmo significado mantém-se o velho ditado que diz que os opostos se atraem, agora corroborado pelas teorias psicológicas.
Ela estuda História da Arte, gosta de filmes franceses e é vegetariana. Ele desistiu de estudar, só lê banda desenhada, não troca por nada um jogo de futebol, seguido de uma sanduíche de couratos. Os dois são diferentes em quase tudo, mas estão apaixonados. O exemplo é (um pouco) exagerado, mas, segundo estudos desenvolvidos pela Psicologia, os opostos atraem-se. A relação entre duas pessoas tão diferentes só poderia ser complicada, mas, e apesar de todos sabermos como estas coisas (não) funcionam, apaixonamo-nos. Ou seja, desejamos aquilo que nos falta. Pelo menos é o que afirma um estudo realizado pelo psicólogo americano Scott Gustafson, professor da Universidade de Dakota do Sul, EUA.
Para demonstrar a atracção entre os opostos, Gustafson pediu aos voluntários que se submeteram a esta experiência para responderem a dois questionários.
No primeiro, assinalavam os traços pessoais que julgavam possuir e, no outro, registavam os que gostariam de ter. Três semanas mais tarde, o mesmo grupo apontou, noutro questionário, os pré-requisitos desejados num parceiro amoroso. Como previa Gustafson, os traços de personalidade do modelo de companheiro eram quase decalcados dos que cada um revelou desejar ter. Assim, a paixão é também apropriarmo-nos das qualidades que o amado possui e que nos fazem falta.
Mas também apenas um gesto, uma palavra ou um sorriso podem desencadear a paixão. Isso mesmo explica a psicóloga norte-americana Pamela Regan. Depois de desenvolver uma experiência com estudantes da Universidade da Califórnia, Regan chegou à conclusão de que o amor nasce de uma expectativa de felicidade. Desde a infância, cada um carrega dentro de si lembranças associadas à segurança, ao conforto e ao carinho. São registos inconscientes que têm a ver com figuras queridas, como os pais.
Um dia descobre-se uma certa expressão num rosto e, sem se perceber, associa-se esse sinal à ideia de felicidade que se construiu. Talvez por isso, tantas vezes nos apaixonamos por alguém que, mais tarde, acaba por assumir um comportamento paternalista... Complexo de Édipo? Quem sabe...
Certo é que a felicidade pode até não durar muito tempo, mas enquanto o sonho não se desvanece o coração bate mais depressa. E há alguém que não goste dessa sensação?...